sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ARTIGO DE OPINIÃO DE CARLOS TOMÉ: publicado no Jornal Torrejano de 12/11/2010

O que podes fazer pelo país?


Ficou na história o que Kennedy disse em determinado momento, ao povo, americano “ não perguntes o que o país pode fazer por ti, mas sim o que podes fazer pelo país.”
Com o panorama da crise nacional esta questão voltou à baila e não há cão nem gato, a propósito de qualquer coisa que não faça esta pergunta.
Nestes tristes e desgostosos dias de hoje em que a desesperança e o desânimo se vão instalando paulatinamente na nossa sociedade caseira, a pergunta pode receber respostas mútliplas e variadas.

No entanto a pergunta pressupõe a noção de que o país trata de tudo o que importa à vida dos seus cidadãos e que estes andam a viver à custa do orçamento sem darem nada em troca. E, obviamente, tal ideia é simplesmente errada e pretende reduzir a vida do cidadão à ingratidão do bem-aventurado insolente e mal agradecido. Não é esta a realidade.
Muitos milhares de cidadãos fazem muito mais pelo país do que o país faz por eles. Quem se levanta ainda de madrugada e sai para o trabalho numa fábrica, usando muita força por pouco dinheiro; quem é espezinhado e vilipendiado no seu emprego e não tem meios que lhe permitam fazer valer os seus direitos; quem tem filhos que trata desveladamente e faz das tripas coração para conseguir a sobrevivência da família com um rendimento escasso; quem sobrevive acabrunhado e derrotado pelo desemprego e procura um novo caminho para a sua vida sem qualquer auxílio; quem luta abnegadamente contra as injustiças de uma sociedade injusta; quem gasta dinheiro do seu bolso e muito tempo da sua vida no trabalho comunitário em colectividade e associações sem fins lucrativos; quem ainda acredita na utopia de um mundo melhor e guia as ua vida por critérios de coerência e verticalidade; quem abdica de um dia do seu magro salário emagrecendo ainda mais o seu magro orçamento mensal para participar numa greve; quem dá o melhor do seu esforço sem pedir nada em troca e exerce a sua profissão de forma correcta e com respeito pelos outros; quem abdica de prebendas e mordomias pela postura íntegra; quem paga o preço da coerência e sofre amargos vários por não dobrar a espinha em salamaleques ignaros; todos estes e muitos outro cidadãos que não vivem nem querem viver das esmolas do estado fazem muito mais pelo país do que alguma vez o país fará por eles.
A este respeito, pode afirmar-se que a adesão à greve geral do próximo dia 24 de Novembro é o modo mais evidente de fazer algo pelo país. A greve geral é a forma mais nobre de manifestação contra este estado de coisas. A participação nesta greve tem um significado que vai muito para além da simples adesão a uma qualquer paralisação por um objectivo imediato , ao alcance das mãos. No caso, desta greve geral estamos perante uma manifestação de tomada de consciência das pessoas quanto à realidade actual e futura do país. Esta greve não significa simplesmente uma luta por melhores salários, tem um alcance muito para além deste aspecto.
É certo que a adesão à greve provoca uma perda no salário dos trabalhadores que precisam dele para a sua vida. È mais um sacrifício para quem trabalha e vive apenas do seu salário. Mas esse sacrifício momentâneo ou prejuízo imediato é contrariado pela consciência de que é preciso lutar contra esta situação, contra este panorama geral de profunda injustiça. Há muitas e variadas razões para aderir à greve. Cada pessoa terá a sua. E todas elas são muito mais importantes que a perda de um dia de salário. Só com a tomada de consciência política é possível modificar as coisas. E essa consciência manifesta-se claramente na adesão à greve. Esse é o melhor serviço que se pode prestar ao país. Quem participa nesta greve está a manifestar a sua opinião de viva voz, está a dizer não a este estado de coisas, está a tomar uma posição colectiva de união e solidariedade com os seus iguais, está a participar activamente na procura de uma outra solução para os problemas do seu país. Está a ajudar o seu país.
Quem adere à greve geral deixa de ser apenas um ente passivo, solitário adormecido, recebedor e reencaminhador de mails a dizer mal do governo. E ganha um papel fundamental e activo na recusa de ser apenas um acabrunhado, carneiro em rebanho, obediente e agradecido. Quem adere à greve geral assume a sua condição de ser livre. Sem medo de exisitir. Sem receio de afirmar as suas razões. E luta pelo seu país.
Por isso, quando lhes perguntarem o que pode fazer pelo país, deve dizer muito acertadamente: no dia 24 de Novembro vou fazer greve.